Tradições Pagãs
Existem muitos caminhos dentro do Paganismo. Alguns veneram sozinhos ou como membros de variados grupos. Alguns caminhos estão claramente definidos e têm uma estrutura com os seus próprios ensinamentos e outros não, mas alguns dos caminhos mais populares dentro do Paganismo são a Wicca (feitiçaria moderna), o Druidismo, e a Tradição do Norte (Escandinava e Anglo-Saxónica). Outras tradições pagãs ressurgiram após o regresso do Paganismo, tal como a Tradição Ibérica.
Wicca
Um informativo da Federação Pagã Internacional – PFI
A Wicca (ou Witchcraft)1 é um caminho específico dentro do Paganismo. Na sua forma moderna remonta ao final dos anos 40 quando as formas sobreviventes de adoração pré-cristã, pagã, foram descobertas pelo Dr. Gerald Gardner. Para os que aderem à Wicca, ela é uma religião de mistérios2.
É um caminho de desenvolvimento pessoal que pode ser seguido pelo indivíduo ou dentro de um grupo de apoio. O seu objectivo é compreender e sintonizar-se com a natureza cíclica da vida e atingir uma relação harmoniosa com a Natureza, com o Eu e com a Centelha Divina3.
A Wicca é essencialmente uma forma iniciatória de Paganismo, sendo que o objectivo é o indivíduo atravessar alguma forma de “revelação” e de dedicação ao seu caminho particular com a intenção de se tornar consciente da sua parte no mistério cíclico da vida e da sua relação com ele.
Este é um caminho de compromisso espiritual que só pode ser assumido de modo apropriado na maturidade. Assim, ninguém menor de 18 anos de idade (e geralmente 21) é iniciado na Wicca. Ninguém de qualquer idade é pressionado para a iniciação. De facto, os que procuram com sinceridade têm muitas vezes de esperar durante algum tempo (tradicionalmente um ano e um dia) antes de serem aceites.
Devido à natureza profunda da prática da Wicca, os grupos são constituídos como Covens, com uma Sumo-Sacerdotisa4 e um Sumo-Sacerdote5 6, que são responsáveis por guiar os membros no seu caminho espiritual, por organizar as cerimónias e pelo trabalho de grupo.
Tal como os outros pagãos, os wiccanos celebram os oito festivais sazonais; muito frequentemente estes e cerimónias como os Handfastings (casamentos) são reuniões abertas para as quais são convidados não-wiccanos; as crianças podem (o que é muito próprio) estar presentes nestas reuniões.
Para além disso, os wiccanos também se encontram uma vez por mês na Lua Cheia e é nestas reuniões que os Mistérios são ensinados e que é realizado o trabalho mágico; isto inclui a cura psíquica, o focar energia para atingir resultados positivos e o trabalho para o desenvolvimento espiritual dos membros individuais do Coven.
Estas reuniões de Lua Cheia são restritas apenas aos membros do Coven. Não se permite que as crianças estejam presentes. Antes de começar uma reunião, cria-se um espaço mágico sob a forma de um Círculo, utilizando um ritual simples de consagração. O trabalho mágico que toma lugar no seio do Círculo é confidencial e não é discutido fora dele.
É perfeitamente possível ser-se pagão sem se ser wiccano. Na verdade, muitos pagãos não têm desejo de se tornar num. Contudo, não é possível ser-se wiccano sem se ser pagão. Quem diga ser wiccano ou um Feiticeiro, mas não aceite os princípios básicos do Paganismo está a iludir-se a si mesmo ou a fingir ser algo que não é.
Os wiccanos em geral pertencem a uma de quatro “tradições” principais. Estas são a Alexandrina, a Gardneriana, a Hereditária e a Tradicionalista. Os Gardnerianos reclamam a linhagem de Gerald Gardner, os Alexandrinos de Alex Sanders. Os Tradicionalistas dizem que os seus métodos foram passados de geração para geração através de uma família alargada ou de uma comunidade. Os Hereditários são o mesmo, mas os seus laços de família são de sangue ou por casamento.
Nos últimos 15 anos, registou-se um aumento dramático, tanto nos wiccanos não-alinhados *(semelhantes aos Neo-Pagãos no aspecto e na abordagem) e naqueles que descobriram a Wicca através dos muitos livros disponíveis escritos sobre o assunto por Janet e Stewart Farrar, uma síntese das formas Alexandrinas e Gardnerianas. *Nomeiam-se Wicca Eclética e/ou Wicca Progressiva.
A Wicca é uma religião não-dogmática; ao contrário de qualquer outro sistema religioso maioritário, não há uma forma “certa” ou “errada” de observação. O indivíduo é livre de seguir uma das tradições principais ou para encontrar o seu próprio caminho. São as crenças, a filosofia e a ética que são importantes, não a sua expressão exterior. Para além das linhas de conduta básicas, não existem quaisquer “mandamentos” excepto o seguinte (conhecido por Lei Wiccana):
An it harm none, do as ye Will.
Escrito como um arcaísmo, significa o seguinte: “An it harm none”; se nada é prejudicado (incluindo o Eu do próprio)- “do as ye Will”; “Will” é posto em maiúsculas e significa a “verdadeira vontade”, ou seja, aquilo que causa o crescimento espiritual, aquilo que está “certo”.
A Lei é utilizada como um teste para qualquer acção; mesmo quando confrontado com dois cursos, nenhum dos quais é prejudicial, a decisão é tomar o caminho que espiritualmente é mais elevado.
Os Wiccanos juram observar a Lei e ninguém que observe a Lei poderá jamais magoar intencionalmente crianças para sua gratificação pessoal ou para gratificação de outrem.
Claro que toda a gente pode abandonar um Coven em qualquer altura, e alguns fazem-no. Estas pessoas não sofrem sanções, mas apenas se pede que respeitem a privacidade dos que permanecem. Os membros que permanecem observarão todos a Lei, por isso não farão nada para obstruir alguém na sua busca espiritual.
Um informativo da Federação Pagã Internacional – PFI.
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Para PFI – PORTUGAL
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- Nota da Tradutora: Wicca e Witchcraft são tradições diferentes. A Wicca remonta aos anos 50 e surgiu com Gerald Gardner, enquanto a Witchcraft é mais antiga, remontando pelo menos à Idade Média. Esta questão é polémica e bastante discutível.
- O termo religião de mistérios descreve aquelas religiões ou sectores dentro das religiões, cujo objectivo é chegar pessoalmente ao conhecimento do Divino pela experiência directa, revelação e busca pessoal. Não é uma maneira melhor ou pior de aproximação ao Divino do que outra qualquer (isto é, a Wicca não é considerada como uma forma “mais elevada” ou “melhor” de Paganismo do que qualquer outra). Os sectores de mistério existem no Islão como sufismo, no judaísmo como a Cabala, mas o cristianismo afastou-se da gnose, excepto talvez muito no seio da igreja católica.
- Claro que a Wicca não é a única forma de um Pagão se aproximar dos “Mistérios”; eles podem ser abordados por quem tenha a capacidade e a necessidade de o fazer. A Wicca é apenas um caminho já experimentado e testado de alguém se desenvolver se tem o desejo de o fazer. E claro que nem todos os que são Wiccanos atingem totalmente estes objectivos; não é uma garantia.
- Nota da Tradutora: no original, High Priestess (HPs).
- Nota da Tradutora: no original, High Priest (HP).
- Na Wicca, todos os iniciados são sacerdotisas e sacerdotes. Os líderes de um Coven são conhecidos como Sumo-Sacerdotisas ou High Priestesses e Sumo-Sacerdotes ou High Priests.
Druidismo
O Druidismo de hoje é um eco do Druidismo do passado. Os Druidas eram os profetas, mágicos, videntes, curandeiros e conselheiros das tribos pré-cristãs. Os Druidas de hoje buscam a maior parte da sua inspiração nestas pessoas. Dentro do Druidismo existem os Bardos, os Ovatos e os Druidas. Os Bardos são contadores de história e poetas que usam o poder da poesia e da música para contar os seus contos a outros. Esta parte do Druidismo é aberta a todos. Os Ovatos são os profetas e os videntes que aprendem a libertar o poder das suas mentes para dar uma visão do futuro. O Druida passa por ambos os graus antes de se tornar no sábio, conselheiro e mestre. Os Druidas aprendem muito da tradição das árvores, plantas, pedras e tudo no mundo natural. Também eles se reúnem para celebrar o passar das estações.
Tradições do Norte
Tradição do Norte é um conjunto de religiões populares que vêem do norte da Europa. A tradição do Norte segue a mitologia nórdica e os seus muitos Deuses e Deusas tal como Thor,Freya, Woden e outros. Existem vários Festivais através do ano e tal como com outros caminhos pagãos, existe também uma tradição de magia. Os seguidores reúnem-se para celebrar em grupos chamados Hearths e dentro dos Hearths, todos são reconhecidos como sendo iguais.
Cultos Ibéricos
A velha religião peninsular
Em cada região, uma Divindade; a cada espírito Criador o seu espaço! É o culto aos Deuses destas terras, tradição antiga mas renovada sem contudo fugir aos conceitos e preceitos do antigamente. Os nossos ancestrais adoravam os seus Deuses com cultos diferenciados entre tribos e regiões e amavam e respeitavam os lugares e espíritos da natureza, colhiam e caçavam com bravura e respeito.
No passado, a Península Ibérica foi palco de influências de vários povos entre eles os Celtas – daí o rótulo de Celtibero, mistura de povos Celtas e Ibéricos – , e os Fenícios e Cartagineses, depois Romanos e mais tardiamente entre outros, Suevos e Visigodos. As nossas Divindades nunca se mesclaram totalmente com as dos povos invasores.
Como Ibéricos temos uma tradição muito Ancestral na qual muitas das práticas exteriores, o culto dos adoradores vulgo povo, foram absorvidas pela religião católica surgindo mais tarde em épocas festivas tais como o Entrudo, Pascoela e Natal, nada mais que as datas aproximadas das festas que foram palco dos nossos Deuses. No entanto, os mistérios sempre permaneceram no segredo das Senhoras, dos Akerras, das Jãs e dos Naimen. A adoração e o Ritual dos Deuses Peninsulares têm a ver com a Arte Antiga, hoje chamada Tradicionalista.
O espírito religioso dos romanos baseava-se na importação dos Deuses das várias regiões conquistadas e, assim como quiseram absorver os poderes das tribos, assim pensavam os nomes dos Deuses locais e os aplicavam conforme as conveniências, sem contudo neles existir o verdadeiro sentido mágico-religioso. Assim aconteceu com a nossa Deusa Atégina que, após a romanização, virou Próserpina, nome deveras conhecido na mitologia romana, mas que muito antes de Roma se instalar já os povos locais conheciam a lenda da descida da Deusa aos mundos inferiores, só que de outra forma. Aliás, este mito é comum à alma grupo universal do Neolítico ao Calcolítico e decorrentes.
E, cinco séculos antes de Roma, haviam já chegado os Gregos e Fenícios e, posteriormente os Cartagineses que não nos forçaram a Religiões impostas, mas foram bastantes influentes na passagem de segredos e mistérios aos Sábios tribais dos Santuários primitivos, já existentes na Península. Não nos poderíamos alhear também da importância trazida pelas culturas Fenícia e Grega e cuja cultura resplandecente causou assombro e respeito aos povos nativos do litoral com os cultos de Baal Merkart e de Tanith de Cartago, outrora aqui cultuados na Nazaré, entre outros…
A nossa Tradição tem uma ancestralidade reconhecida num vasto panteão autóctone, quase livre de influências exteriores, e nos variadíssimos vestígios históricos, que cada vez mais surgirão à luz dos homens.
O Panteão Ibérico é rico e tribal. As divindades que cultuamos, existem nas antigas regiões da Bética, da Lusitânia e da Calaecia, e, entre as várias Divindades, cultuamos as seguintes:
- EndoVellico – o Curador;
- Aerno – O senhor dos Ventos,
- Atégina – A Deusa Mãe;
- Trebaruna – A Guerreira e Protectora;
- Tongoenabiagus – O Fertilizador;
- Tanira – A deusa das Artes;
- Nabica – Deusa das Águas; e Brigantés – Deusa guerreira (Norte).
Coeva Lusitanae
Portugal 1999